A Paz

Hoje, quem diria, eu a vi outra vez

Depois de tanto, tanto tempo a reencontrei.

Metade desta vida pus-me a desprezà-la.

E a outra, louco, a procurei.

Era eu ainda menino quando ela apareceu,

E me embalou em sua canção

E me deitou ao peito seu.

Era tempo de doçura

Tempo de inocência

Cuja rara e santa essência

não perdura,

E volta às mãos de Deus.

Tantos anos fazia que eu não a via ou a sentia

que eu a mal reconheci.

Veio ela doce e sutil

Mas como quem teme a luz do dia

O corpo e a alma, eu encolhi.

Mas ainda assim ela veio

Veio como um simples passarinho

que sedento, pelo caminho,

encontra um poço d'água.

E pousando sobre mim,

Beberica um pouco e mata, enfim,

A sua sede e a minha mágoa.

Entrou com ardente e suave fúria

Pelas portas do meu ser

E fez de novo renascer

A alegria aprisionada.

Fez-me dormir o sono dos anjos

Com o canto mais perfeito

a sonhar que em meu peito

Já não doía nada.

Com uma tranquila leveza

Ela me abraçou,

E sorrindo, me embalou

Na mesma e velha canção.

E ali eu tive a certeza

Sublime e linda

De que estava vivo ainda

O meu pobre coração.

Eu ri e sorri, sem perceber

Ela viu e de volta me sorriu

A dor partiu, a tristeza sorriu

E, de repente,

tudo ganhou cores.

A tempestade de mil anos

Parou por um instante

O inferno delirante

Tornou-se um Céu de amores.

Senti-me vivo como há tempos não sentia...

Mas num piscar de olhos

Num breve momento

Ela voou e sumiu no vento

Como que dançando

Pelos céus da Eternidade.

O amor virou carícia

A carícia virou calma

A calma virou dor n'alma

E a dor virou saudade.

Eu ainda chorava

Vendo-a partir

Sentindo junto dela ir

A esperança tão serena.

Mas voando, para sempre,

Sabe Deus se por amor ou pena

deixou cair uma só pena

que mesmo triste faz-me crer

Que esta vida vale a pena.

Marco Fabricio
Enviado por Marco Fabricio em 10/09/2018
Reeditado em 10/09/2018
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