Saudades de Um Futuro Não Vindo

Se hoje ando por aí,

Rabiscando paredes invisíveis,

(que minhas letras não sujam)

Quebrando vidraças imaginárias,

(que minhas pedras não lascam)

E chutando cachorros inexistentes,

(que minhas botas não marcam)

É culpa da velha memória,

Aquela, que trago de ti

É culpa dos momentos que vivemos

A pequena felicidade que existiu

Das promessas que não fizemos

Do quase futuro que não se cumpriu

É culpa da saudade que sinto

De tão promissoras eras

Em que eu viveria ao teu lado

E de toda uma história

Que teríamos partilhado.

Se hoje eu espalho minhas letras,

Se chovem vírgulas pelas calçadas,

Se interrogações brotam dos canteiros,

Lembra-te, ias ser a minha amada

E eu, teu amor derradeiro.

Hoje, tu podes chorar.

Pois eu aqui também choro,

Não é choro de lágrima verter,

É um choro no qual me demoro...

Eu choro palavras,

Eu choro frases,

Choro poesias,

Choro sem que ninguém veja

Nem mesmo o espelho sabe

Que choro em copos de cerveja

Que choro até que se acabe

Essa saudade imensa

Do que não aconteceu,

Do que não foi possível

Do amor que já foi meu

Mas que não aconteceu.

Te verei ainda um dia?

E te vendo, saberei me redimir?

Te pedirei para ficar

Ou te deixarei partir?

Há um mundo, e ele me impede

De tais respostas ver.

Só tenho letras, palavras, frases

E a saudade de você.