Chega de tecnologia

Não quero mais ler os teus recados

nas telas opacas

deste quadrado e insensível monitor.

Estou com vontade de te dar um abraço,

de ouvir tuas falas,

de sentir teu calor.

Cansei-me deste diálogo tolo e insosso

entre mim e esta pálida tela,

sou mais afeito à viva aquarela

que, naturalmente, resplandece do teu rosto.

Já não vejo alguma graça,

tampouco dão-me contentamento

os poemas feitos por pessoas que nunca vi.

Alegra-me ler o que na tua cabeça se passa

e presenciar o arco-íris de teus sentimentos,

então, ante o virtual, anseio o papo facial e te ouvir.

Esta mania meio irreversível e já claustrofóbica

de nutrir quaisquer laços à moda de internautas

faz da gente um ser repleto de necessidades.

Tolhe-nos a emoção e o senso e o riso e a lógica,

no físico e na essência há inexplicável sensação de falta;

mudos: a boca, os olhos, os braços já não falam da saudade.

Por isso, incontinente, volto ao pretérito

e ando por lugares do mundo antigo

e me vejo avesso à modernidade.

Lá, corpo e alma se expressam em gestos,

além da alegria espontânea dos amigos

alheios a este beócio subterfúgio de comodidade,

Que nos foi vendido pela alta tecnologia,

por parcos trocados, a princípio, quase irrisórios;

todavia, uma conta impagável, se vista c'outros olhos,

pois que nos consome o improviso e a magia.

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 25/04/2006
Código do texto: T145105