Adeus ao contrário

Que eu morra, meu filho!

E antes de você.

Não se morra, meu filho,

Essa dor, um pai não pode ter.

Fazer-te, sim.

Ver nascer, ou não.

ver crescer, ou não

Ver morrer, Deus queira que não.

Pois que o mundo gira para um lado só,

E ninguém tem o direito de tentar mudar.

Do meu corpo, o teu corpo

Da minha alma, a tua alma.

Que o meu corpo caia na terra

Que seja você quem o enterra.

Mas que eu não veja morrer

Algo que eu vi nascer.

Faltará, mais uma vez,

Um pedaço de mim,

Porque quando você veio ao mundo,

Uma parte de mim, lá do fundo,

Se desprendeu para você.

Outras tantas eu te dei,

Quando a você ensinei

Os segredos de viver.

E se você morrer,

Tudo morre também,

E eu ficarei incompleto,

Vazio, o corpo repleto,

Da falta de você.

O eco na minha alma vazia,

O eco na casa, agora fria.

Os planos que eu fazia,

Os planos que você tinha.

Os motivos pelos quais sorria,

Que na época eu não entendia,

Quanta ironia!

Agora o que eu mais queria,

Era ver a sua alegria

Encher meu dia-a-dia.

Adeus, minha filha!

A Deus, pedaço de minha família.

Desventura que é a morte,

Sem censuras à sua sorte,

Tão mais curta que a minha.

Neste adeus ao contrário,

Peço a Deus o contrário:

-Me leva, e não a ela!

Deixe que tenha um fim

A história cujo começo é em mim.

Não há palavras para explicar o que eu sinto,

E se houvesse, admito, eu não as diria.

Me faltaria coragem.

Minha saudade imensa e sem fim,

Tua história pequena e sem fim,

Um breve texto...