Quando é saudade

Quando é saudade

Anoiteceu em minha vida

Quando tu já não estavas

Na cadeira de balanço...

A procura me levava

Ao teu descanso

E , com um doce sorriso,

Falavas da esperança.

Como olharei para o jardim

De flores coloridas

Cobertas pelo orvalho da manhã

Se elas refletem a tua face querida?

Como ficarão meus dias

Sem a tua presença

Nas tardes sombrias?

A imagem congelada

Da expressão mais bela

Traz à minha lembrança

Um quadro de aquarela

Onde tu eras a modelo

Que eu pintava na tela

Da minha vida singela.

Onde ficaram os livrinhos

E folhetos de orações

Que dizias em palavras ternas

Em frente ao Menino Jesus?

Onde posso encontrar

O desvelo das tuas preces maternas

Que insistias em me ensinar?

A saudade ficou

Como o perfume que fica

Após a despedida

A vida, com matizes de dor

Revive as fantasias coloridas

É a lembrança do amor

E o reencontro das ilusões perdidas.

Como vou olhar para a chuva

Que bate dolentemente

Na vidraça multicor

Se estás só na minha mente?

Como viverei sem teu amor

Se dos meus olhos caem lágrimas de saudade

Que se confundem com a minha dor?

O amor ficou gravado

No âmago do meu ser

Porque tu me ensinaste

A ser assim: a viver

Em fraterna comunhão

E como tu, sendo exemplo de fé

Em Deus, na vida e no irmão.

Como verei as estrelas

Nas noites frescas de verão

Quando seguravas com as tuas

As minhas mãos para vê-las?

Quem me mostrará o Cruzeiro do Sul

As nuvens em forma de carneirinhos

A lua, no distante céu azul?

A felicidade residia nas pequenas coisas

Construídas inocentemente

De sonhos, sons e cores

Que povoavam a minha mente.

Esquecia as dores

Da infância vazia de presentes

Mas cheia de ternura e amores.

Como irei dormir

Sem o peso do teu corpo

Para aquecer minhas pernas

Após as brincadeiras na noite fria?

Como viverei sem ouvir as palavras ternas

Do doce acalanto que me embalava

Os sonhos enquanto dormia?

A ausência que dói

Não me faz descrente

Porque aqui na vida terrena

Ensinaste-me a ser gente

De bem, de amor e de fé

Com palavras serenas

De um coração consciente.

Como resgatar

A minha alegria

Se quando partiste levaste contigo

O calor do teu abraço e o afago das tuas mãos?

Como viverei sem a minha ave

Que me levava num vôo sereno

Ao porto seguro do seu coração?

Viverei, assim na saudade

Até que a vida em mim se exale

E noutro mundo

Onde choram e riem

Encontrarei o teu abrigo

Nos teus braços abertos

E na face um sorriso.