Cabocla Ademilde

Ademilde uma cabocla linda

que conheci menina ainda

de um caboclismo que só

tudo herdado da índia avó

donde a mestiçagem começou

e aquela beleza acobreada se moldou

Não era aquela beleza oca

sem palavras na boca

e olhar sem lume

A mistura de genética e costume

deu-lhe corpo escultural

e saber tribal

De um cabelo preto-azul

comprido até o sul

face de deusa tupí

o resto de guarani

e cobrindo tudo

uma tez de veludo

Essa cabocla me amava tanto !

dizia: “meu anjo, meu coração fica até doendo,

quando penso em nós dois sozinhos

vivendo aqui juntinhos”

Ademilde me deu corpo, amor, alma

prazer, paz e calma

e quando abandono lhe vinha

pedia um amor que eu não tinha

Um dia disse: “vou lhe dar um caburé”

“cê qué num qué ?”

não esperava respostas

se fazia propostas

E entre dúvida e esperança

suplicava a bem-aventurança

“que anjos me tragam um nenem

amém,amém, amém”

Fiz de tudo para amá-la

mas acabei por magoá-la

o amor foi atroz e arredio

ela chorou um rio

A cabocla que muito se feriu

juntou a tralha e partiu

Meus recados não atende

e isso lá se entende

Ah! Como dói o arrependimento

Se pudesse, matava esse sofrimento

Se pudesse, voltava humilde

Para ti, minha cabocla Ademilde