Eclipsis

Hoje minha alma amanhece de novo,

buscando o poente nas águas.

Hoje recebo o vento esfumando a luz das minhas alvoradas.

Sinto, devagar e contíguo, o mortuoso sabor do nada

se aproximar com gloria e subsídios,

se aproximar e caber-me.

Não creio que tenha calado, mais que o mudo que falar não sabe

a incógnita sempre erudita, incita a que lhe faça perguntas,

É sua essência maldita e perfeita, gerar vazios e dúvidas.

Mas tarde, quando ninguém me veja, acercar-me-ei à beira da fossa cavada.

Mais tarde quando o negro relógio hospede as horas passadas,

serei invisível e opaca, serei lodo de minhocas e larvas,

serei húmus de charcos ancorados,

tudo que fui em vida, mas, sob tuas plantas.

E haverá imagens completas,

fotos velhas de felicidades oxidadas, costurando os mundos do homem,

aproximando abismos, opostos, distraindo o esquecimento de alguém,

diluindo a dor da eterna saga

E você saberá que sinto sua falta

logo agora que ela me alcança.

E você saberá o farsante que fui,

prometendo amores escravos da mãe foice.

E outra vez os olhares esquivos, insinuando que nada acontece.

Outra vez a lua jogada no alvo que vimos, pintando o cais.

Manilkara
Enviado por Manilkara em 09/01/2010
Código do texto: T2019971
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