Crepúsculo
Por entre nuvens andejas,
Expira o sol lentamente;
Seus braços quase dormentes
Tornam fulvos os telhados.
O bronze então desgastado
Do vetusto chafariz
Veste o rúbido matiz
De frutos já sazonados.
Envolvido na magia
Do canoro entardecer,
Vejo entre os bancos correr
A esperança em gritos ledos.
A vida: eterno brinquedo,
Não quebra, nem sofre danos
Porém ao passar dos anos
Esconde-se em nossos dedos.
Recordando primaveras,
Contemplo através dos mais
A ternura dos casais
Que exibem brancos cabelos;
Felizes em assim tê-los
São crianças outra vez
Porque o tempo não desfez
Ilusões para vivê-los.
Nesta catedral silvestre
De oratórios singulares,
Acordes crepusculares
Acendram as emoções;
Nascem afáveis orações
Nos fiéis, enamorados,
Comungando a olhares dados
De amantes, as vibrações.
Vem a noite de mansinho,
No silêncio imerge a preça;
Um que outro agora passa
E a nostalgia me invade;
Perdeu-se a alacridade
Com os raios de sol posto
E faz brotar em meu rosto
As lágrimas da saudade.
Jorge Moraes - Livro: Acalantos