Crepúsculo

Por entre nuvens andejas,

Expira o sol lentamente;

Seus braços quase dormentes

Tornam fulvos os telhados.

O bronze então desgastado

Do vetusto chafariz

Veste o rúbido matiz

De frutos já sazonados.

Envolvido na magia

Do canoro entardecer,

Vejo entre os bancos correr

A esperança em gritos ledos.

A vida: eterno brinquedo,

Não quebra, nem sofre danos

Porém ao passar dos anos

Esconde-se em nossos dedos.

Recordando primaveras,

Contemplo através dos mais

A ternura dos casais

Que exibem brancos cabelos;

Felizes em assim tê-los

São crianças outra vez

Porque o tempo não desfez

Ilusões para vivê-los.

Nesta catedral silvestre

De oratórios singulares,

Acordes crepusculares

Acendram as emoções;

Nascem afáveis orações

Nos fiéis, enamorados,

Comungando a olhares dados

De amantes, as vibrações.

Vem a noite de mansinho,

No silêncio imerge a preça;

Um que outro agora passa

E a nostalgia me invade;

Perdeu-se a alacridade

Com os raios de sol posto

E faz brotar em meu rosto

As lágrimas da saudade.

Jorge Moraes - Livro: Acalantos

Jorge Moraes
Enviado por Jorge Moraes em 22/01/2010
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