Cervejas e Cerejas

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Encontrávamo-nos sempre

Nas noites marginais, botecos fumacentos

Refúgios de solitários ansiando companhia.

Ela me chamava de Profeta

Eu a chamava de Alegria

(tinha um riso debochado encantador)

Sorriso iluminado, olhos sonhadores...

De tudo falávamos

(alquimia, sexo dos anjos, amor, dor, poesia...)

E até do que não sabíamos.

Em quase tudo discordávamos

Acho que nisso residia a magia

Eu a queria mas ela não sabia

Ou sabia e fingia que não percebia

Era um tanto excêntrica

Uns gostos loucos

Cerveja com cerejas, por exemplo

Peguei gosto pela coisa, admito

Um dia ela declamou uns versos

(até bonitos) de um poeta

que eu não conhecia

Disse que era a musa do tal cara

Que pra ela haviam sido escritos

E que iria encontrá-lo

Confesso, enciumei...

E foi

Se encontrou não sei

Que não voltou, eu sei

Sem ela ficou mais amarga

minha cereja sem cerveja...

= Roberto Coradini [bp} =

12//03//2011