QUE IMPORTAM OS ANOS?

A gente sempre quer

Um amor assim:

que dure eternamente

ma que não se veja todo dia

e que por isso

em nada nos alivia...

Temos medo

e não acreditamos

num amor tranqüilo

diário

que almoce e jante

um cardápio pronto...

O amor que a gente espera

é tão arrebatador

e perigoso

que a gente diz que o quer,

mas apenas guardado no armário

fechado,

para abrir sem risco

na solidão

que criamos para esse amor

Eu já fiquei tão quieta

no teu armário

que tenho medo de sair

de ser ofuscada

e me perder de novo

nesse amor que eu quero

A gente quer tanto esse amor

que fica horas só enviando beijos

que esquece que o celular

tem conta

a casa tem conta

a aliança e os filhos

têm conta

e meus prazos estão todos vencidos

porque esse amor que a gente quer

me deixa perdida

A gente até tem um amor

Cheios de etiquetas

Com prazo de validade

e tudo o mais explicado

em bulas

ou rótulos

Mas o amor que a gente quer

é feito o raio-lazer

cortante

fugaz

iluminado

confuso

Até era para ser apenas

um pequeno amor

onde eu criei rimas e linhas

para arrancar de mim

na minha pior poesia

mas ele só sangra

e sangra

mesmo na lembrança

E até do silêncio

desse amor a gente gosta

Até de só pensar nele

a gente se desespera

Porque ele foi feito

para ser sempre chocolate quente

mesmo no verão escaldante

A gente sempre quer

um amor assim:

que de pequena manhã

ele inunde

praça

vento

saxofone

ou uma banda inteira

e os meus cabelos.

A gente quer o amor que

dá medo.

carla nobre
Enviado por carla nobre em 04/02/2007
Código do texto: T369214