Quem me dera
Quem me dera
Ah, quem me dera
Ter seis ou sete anos,
Comer azedas na primavera
Correr sem medo dos danos,
Sentir o ranho no nariz,
Andar com os joelhos esfolados
E correr todo feliz
Com os cabelos despenteados,
Aqueles calções todos rotos
E os ténis gastos da bola,
Ah, quem me dera aqueles garotos
Com quem ia para a escola,
Ah, quem me dera a chinelada
Que a minha mãe me dava
Porque eu não fazia nada
Daquilo que ela me mandava,
Ah, quem me dera as paixões
Próprias daquela idade,
E todas as discussões
Que elas provocavam sem maldade,
Ah, quem me dera os jogos infantis
Onde tentava brilhar.
Não para ficar mais feliz
Mas para as miúdas impressionar,
Ah, quem dera aquelas conversas
A tentar falar como gente graúda,
Feitas nas esquinas e travessas
Com uma qualquer miúda,
Ah, quem dera os bolsos colados
De um chupa-chupa à pressa escondido,
Ou os cigarros nas meias transportados
Para não ser, pelo meu pai, surpreendido,
Ah quem me dera esses tempos de outrora,
Não pela saudade do tempo passado,
Mas sim por ver como agora
Me obrigam a ser um menino bem comportado.
Francis Raposo Ferreira