Quem me dera

Quem me dera

Ah, quem me dera

Ter seis ou sete anos,

Comer azedas na primavera

Correr sem medo dos danos,

Sentir o ranho no nariz,

Andar com os joelhos esfolados

E correr todo feliz

Com os cabelos despenteados,

Aqueles calções todos rotos

E os ténis gastos da bola,

Ah, quem me dera aqueles garotos

Com quem ia para a escola,

Ah, quem me dera a chinelada

Que a minha mãe me dava

Porque eu não fazia nada

Daquilo que ela me mandava,

Ah, quem me dera as paixões

Próprias daquela idade,

E todas as discussões

Que elas provocavam sem maldade,

Ah, quem me dera os jogos infantis

Onde tentava brilhar.

Não para ficar mais feliz

Mas para as miúdas impressionar,

Ah, quem dera aquelas conversas

A tentar falar como gente graúda,

Feitas nas esquinas e travessas

Com uma qualquer miúda,

Ah, quem dera os bolsos colados

De um chupa-chupa à pressa escondido,

Ou os cigarros nas meias transportados

Para não ser, pelo meu pai, surpreendido,

Ah quem me dera esses tempos de outrora,

Não pela saudade do tempo passado,

Mas sim por ver como agora

Me obrigam a ser um menino bem comportado.

Francis Raposo Ferreira

FrancisFerreira
Enviado por FrancisFerreira em 29/05/2012
Código do texto: T3694589