Muçambê – Lembranças

As lembranças chegam

como um trem desgovernado.

E vai desatando os nós

da linha da vida que segue,

aos solavancos e calmarias,

como um aboio semitonado;

e a saudade

junta tudo no saco da solidão e segue:

Em busca dos melhores momentos

sob a grande latada toda enfeitada

com flores de muçambê,

para o São João.

O meu sertão se esverdeava

ás primeiras águas da invernada,

o mandacaru enflorava,

a casca do angico engrossava,

e o chão encharcado,

trazia de volta as flores do muçambê;

muçambê enraigado de vida,

de flores rosas, brancas,

colorindo minha infância,

aromatizando os campos.

Em suas flores e folhas,

a porção mágica,

de o homem curar;

suas raízes,

os males pulmonares findar,

dispondo assim,

a riqueza da sabedoria

dos sábios populares.

E no trem desgovernado

das lembranças que chegam,

vou seguindo

tomado por uma alegria de contentamento,

de neste trem estar;

abro os braços ao vento,

e do saco da solidão me desfaço,

e nas lembranças do muçambê,

vou-me:

de volta ao semiárido pernambucano,

de volta pra casa.