Teus gestos, meu pai

Pai,

De ti não se ouvia recusa...

Teu corpo cansado não rejeitava o árduo esforço.

Teu braço veemente insistia e resistia no intenso labor.

Labor que nutria os teus filhos!

Teu âmago ditava o peso fatigante sobre o teu dorso.

Tua responsabilidade pedia e exigia em nosso favor.

Favor que encorajava os teus filhos!

Pai,

De ti não se ouvia recusa...

O suor transbordava no teu rosto enérgico e avermelhado.

O sangue era bombeado e acelerado pelo teu incansável coração.

Coração que já não bate pelos teus filhos!

A musculatura rígida se contraia com o teu esforço empenhado.

O pulmão aspirava e expirava o ar que oxigenava a tua serena ação.

Pulmão que já não respira pelos teus filhos!

Pai,

A tua vida foi dedicação desinteressada.

Só pensava no nosso bem-estar.

A tua morte foi uma condenação sumária e injusta, não admitiu apelação!

A morte, afinal, é acórdão proferido por um Tribunal imbecil que não aceita o contraditório...

Pai,

Teu afastamento trouxe um vazio.

Vazio que se fortalece na saudade...

Teu comportamento solidário alimenta a lembrança dos teus.

Lembrança que é mero paliativo para suportar a tua ausência...

Pai,

Teus gestos são inesquecíveis (para nós).

Teu jeito incomparável (para nós).

Doeu (para nós) te perder...

Teus gestos e o teu jeito são os legados do teu codicilo, escrito com teu sofrimento final.