A lei da reciprocidade
“Abrir o guarda-chuva,
para se proteger.
A terra depende muito dela
e nós precisamos demais da terra.
Enquanto que o agricultor,
ah, esse sim,
não sobrevive sem ela.
Seguir o curso da vida,
sem demasiada proteção,
para se molhar e também os pés.
Isso sim, é normal e saudável.
A chuva é sinal de fartura,
salvo quando alteramos o seu ciclo,
assim como toda estrela tem brilho,
a depender do quanto nos permitimos ao sol.
As sementes também dependem de ambos:
chuva e sol, sol e chuva.
Também a saúva, formiga doída,
mas tudo na sua exata medida,
também como é a vida,
completamente comprometida,
mas somos nós,
que não cumprimos a nossa parte.”
Antonio Assunção,
amigo e irmão, que esboçou este poema,
gentilmente pediu, que eu o trabalhasse
e que também o publicasse no ‘recanto’,
inclusive sugerindo o tema:
‘sem poema e sem verso’
e o que eu fiz foi exatamente o inverso,
pois a vida é o seu próprio poema
e cada um dos seus versos,
é um tema.
Isso foi no Rio, depois de quase vinte anos,
quando aí, então, o próprio Cristo,
me pareceu mais comprometido com a Redenção.
Havia mais poesia nas pequenas coisas
e muito mais magia no ar,
diferentemente de quando cheguei para desbravar
e descobri que eu não era exatamente
um desbravador
e sim mais um sonhador,
que se deparou com uma cidade,
que, de certa forma, o maltratou.
Mas só o fez,
porque ele deixou a sua zona de conforto.
Deixou os poucos agasalhos,
para viver um frio do 'carvalho',
isso para não publicar aqui,
uma expressão de baixo calão.
Irmão, era mês de maio
e era muito frio,
no Rio, cidade símbolo do verão.
Mas ninguém havia dito que seria fácil,
assim como ninguém também disse
que seria quente.
Simplesmente valeu o sacrifício.
Novo povo, nova gente
e diferente da primeira vez, quando cheguei
para o tudo ou nada,
-e para dizer que não tinha nada,
levei uma mala, alguns tostões
e muita fé nos corações.
No meu e nos que ficaram.
Depois da casa construída
e a lareira acendida,
literalmente falando,
já consigo ver a poesia do Rio
e agora sim,
posso chama-la de 'cidade maravilhosa',
o que de certa forma, devo isso você,
pois sem alguém, ninguém é nada.
Nem na madrugada e nem durante o dia
e foi por isso que alterei o tema,
passando pelas vias da reciprocidade,
pois meu irmão, a pista de mão única,
quase nunca tem retorno.
Mas nem tudo o que eu disser,
será o suficiente
e talvez,
nem tudo o que eu fizer,
você será capaz de entender.
É preciso sentir a chuva
e o vento que a traz
e o sol que a faz secar.
Obrigado pela acolhida,
como naquela antiga vida,
quando começamos a nos sentir alguma coisa.