Velha canção de um homem sonhador

Era uma velha poesia de dormir

Que falava sobre um velho sonhador

Era só uma canção de dó-ré-mi

De um senhor que me contou

Era um senhor de uns sessenta e poucos anos

Cabelos brancos e enrolados sem piedade

Isso era culpa da grande idade

Que ele contava com orgulho naquele canto

Deveria ter mais netos do que dentes

Se bem que naquela idade só cinco lhe bastavam

E imagino o quão devia ser sorridente

Quando mais jovem do que eu ele apenas sonhava

Era um velho sonhador, como na canção

E quando jovem gostava de cantar

E era assim que colecionava paixão

Sem planejar por alguém se apaixonar

Foi assim que se apaixonou. Quando não percebeu

Quando tentou negar que não ia amar

Mas amou. Por tantos anos que esqueceu

Amou tanto que não podia negar

Sua canção falava de sua amada

Falava de seu amor único e verdadeiro

Todos os dias esse amor declamava

Até chegar ao dia derradeiro...

Não nos atentemos ao fim, pois ele é triste

É inevitavelmente cruel

Não é algo que nesta poesia eu publique

Mas posso dizer que àquela mulher ele foi fiel

Sua canção continha tristeza, é verdade

Mas as notas seguintes eram cheias de alegria

Quando falava dela exalava harmonia

E então a velha canção voltava à felicidade

Na velha canção de dormir ele contou tudo

Falou até em de coisas que eu desconhecia

Me prometeu aos nove anos ser um túmulo

Para confiar em mim todos os dias

E confiando que era eterno eu o ignorei

Deixei de lado as notas de sua velha canção

Esqueci como eram as estrofes e o refrão

Quando de ser responsável eu brinquei

Pelos anos seguintes eu não esqueci

Na verdade, acredito que nunca vou esquecer

Até porque esta canção que canto a você

Foi do maior homem que conheci

Agora, quem tem sessenta e poucos anos sou eu

E netos incontáveis eu conquistei

Dizem que até um bisneto ganhei

Sem saber exatamente onde ele nasceu

Hoje canto para um único neto que me visitou

As histórias da canção de um velho sonhador

Que sonhou que sua história me inspirou

A se tornar um homem de valor

E na velha poesia de dormir, eu acreditei

Que para sempre aquela figura eu terei

Nas lembranças e saudades que me deixou

Na canção de dormir que falava sobre meu avô!