OITICICA

Francisco Alber Liberato

Quantas vezes teus galhos nos abraçaram

Quantas vezes nossos sonhos acalentaram

Quantas vezes tuas folhas nos acariciaram

Quantas vezes brincamos à tua sombra

À tua sombra o operário da lavoura repousou

À tua sombra ele fez planos

À tua sombra ele sonhou com a mulher que amou

À tua sombra ele chorou o leite das crianças

À tua sombra jogamos futebol

À tua sombra cacimbas matavam nossa sede

À tua sombra colhemos o teu fruto

À tua sombra lavamos muita roupa suja

Debaixo te ti eu briguei com a Franci

O meu pedido de desculpa deixo aqui

Quarenta anos depois

Árvore opulenta

Fizeste tudo isso sem pensar em nada

Seringueira do sertão

Pobre homem que de tudo se vã gloria

A única coisa que fez

Foi deitar-te no chão

Sem peso na consciência

Tu que eras exuberante de pé

Pé de oiticica centenário.

Alber Liberato Escritor
Enviado por Alber Liberato Escritor em 30/08/2019
Código do texto: T6733067
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