Sopra Sopra

Sopra sopra

O vento

Sopra o vestido,

Sopra o cabelo comprido

Sopra, acorda os sentidos

Nos pensamentos perdidos

Sopra sopra o vento

Sopra ventania

As folhas cantam em harmonia

Uma mesma canção

Entoam todas juntas

Antes de se entregarem ao chão

Sopram as velas

Em meio a maré

Sopra os lençóis no varal

Também se sopra o café

Sopra vento

Sopra sopra ventania

Sopra o vestido florido

Da menina que sorria

Achava graça nesse vento atrevido

Que a chamava para dançar

Com a melodia

desse seu soprar

Sopra vento,

Sopra sopra a maresia

Sopra o chapéu do jornaleiro

Sopra os papéis daquela sala vazia

Sopra pela janela

O laço de fita amarela

Que seus cabelos prendia

Ouvia-se as gargalhadas

Os latidos e as risadas

Da família que se divertir

Até o vento soprar

Esses momentos

Para o baú do tempo (esquecimento

Memórias que ainda lhe faziam companhia

Quando o vento vinha lhe visitar

Sussurrando bem baixinho

Como fazia,

Bem espertinho lhe dizia "vem dançar"

As folhas entoando a melodia

Era uma só cantoria

Desde criança até seu entardecer

Agora naquela casa vazia

Já não se ouvia

Tanta alegria como costumava ser

Mas ainda ela dança,

Sempre que lhe vem a velha lembrança

De que já foi criança

Então volta a sorrir

E esse vento atrevido

Sopra o mar

Sopra as cortinas

E lhe sussurra aos ouvidos

Boas lembranças,

Galanteios antigos

Só para ver seu sorriso expandir

Até o sono vir...