Varal do Tempo

A maldição de quem ama sozinho,

É ter a sanidade devorada todas as manhãs,

Porquê o dia é só uma cortina sombria e pesada

Que corre no varal do tempo.

E eu? Eu me apego a minha formação

De crer ainda na fantasia do amor.

E misturo tudo, o vermelho da paixão,

Que mantém o tesão a eceso, e a verdade inexorável

De quê o gozo não é o mesmo, sem o amor.

É necessário gritar, soltar o animal

Que por natureza sou, e ainda dorme

A espera da festa prometida, entre a combinação lilás

E o desfiar das meias no roçar das pernas dela.

E é assim, rangendo os dentes

Que saiu todas as manhãs das gavetas do mundo,

Que me faz forte e frágil como uma restia de sombra

Pendurada no varal do tempo.

Fernando Alencar

Fernando Alencar
Enviado por Fernando Alencar em 10/10/2019
Reeditado em 13/10/2019
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