Outono
Tu foste o meu outono, e em minha vida
vi, tristes, minhas folhas de saudade
rolarem pelo solo, ressequidas,
deixando-me mais nua a vaidade!
Tu foste o meu outono, minha vida;
pudeste adormecer minha vontade
e pude então passar despercebida,
tão presa à minha própria liberdade!
Tu foste o meu outono e não soubeste
colher de mim o sonho passageiro;
e se hoje, em meu inverno, não me vestes,
não posso te chamar de companheiro!
Não sei se posso ter saudades tuas
pois nem mesmo senti tua partida,
outono de meu ser, que continuas
tirando as minhas folhas ressequidas!
E hoje – inverno ainda – à tua espera
eu penso que talvez voltes a vir
quem sabe, outono meu, para eu sentir
que voltes desta vez em primavera!
Soubeste ser... Tu foste o meu outono;
roubaste minhas folhas, e não sei
porque ter tanto medo do abandono
se eu mesma, antes de ti, me abandonei!
Mas tu, minha estação, ainda deixaste
as folhas de um amor que eu cultivei
a ponto de saber que não me amaste;
passaste – sem saber quanto eu te amei!