Agreste das almas

Neste mundo, tantas vidas

Tocam o seio desta terra

E, em meio a despedidas,

A morte âmaga que lhes encerra.

Um sorriso já sem encanto

Vaga cego por estas ruas:

O leva a noite sob seu manto

Por entre sombras de almas nuas.

Chovem gotas nesse momento

Mas os olhares estão cerrados:

Só quem chora é o firmamento

E nossos pés, já alagados.

O peso desta possa

É muito – ante passos cansados,

E o sabor que a endossa,

Amargo quanto sonhos deixados.

Não há rumos que os sigam

Nem tristeza a esses soldados,

Nem destinos que persigam

Quem aos abismos estão prostrados.

Desfiladeiros de lembranças

Lhes cercam horas e passado

E atalhos de tantas ânsias

Tentados a um eterno fado.

As recordações sempre amaram

E delas a jura que um dia existiram,

Segundos de vida que sem hora voaram

E ao pendor de esquecidos se cobriram.

O passado que lhes foi lavrado

De prematuro a saudade levou consigo

E a aura dos nomes que honraram

Corrói à janela de seu umbigo.

Desejos, tantas mentes povoaram:

Arquitetos do fio que hão tecido

Mas seus corações se desertaram

Do labor da grandeza que hão querido.

O futuro, de construções,

Só em retratos da maresia;

Um vocabulário de ilusões

Descreve, a penas, alma vazia.

Os vales em que dias se acostaram

Os floreios das virtudes

São lacunas ora das almas que se levaram

Às agruras em seus açudes.

Vitor Barros
Enviado por Vitor Barros em 27/01/2006
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