Porque bebo?

Porque bebo?

Para esquecer a poesia

E tudo o mais que queria

Quando sonhava ser semelhante aos poetas

De causas e ideias correctas.

Quero beber até mais não

Whisky e cerveja em cascata

E pensar que não há dor na ressaca

Que jazem em paz os meus problemas

E não pensar mais em poemas.

Quero regar em álcool e pegar fogo

Esta plantação desordenada

De devaneios e percepções em manada

E suas perigosas fermentações

Quero-as todas cinzas do mesmo chão.

Encharco a garganta seca

Pois é ofício superior o da bebida

Que toda a ilusão ingerida,

Esta trivial inspiração já desatina

E o copo cheio alivia minha sina.

Sorrio por fim para o copo quase vazio

Pois vejo o poeta-louco a boiar

Resumido a este bar

Dando glórias á bebida, alivio-conceito

É pelo menos algo para que tenho jeito.

miguel lopes