Solidão de poeta

Bebo.

Tenho a autoridade da solidão,

percebo meus medos na cadência do dia

temo o sol e os rostos das calçadas

sempre cheias de almas vazias,

fantasmas diurnos

que transitam nas sombras diurnas.

Tenho medos,

a noite trago-os em longos tragos

embebedo-me de coragem e força.

A noite e a escuridão são amigas

e de suas sombras naturais e sinceras

sempre saltam incontinente

o que delas se espera.

Lupos homens que se ocultam

revelam-se nos balcões de bares

mal freqüentados pela luz da razão

que desconfio,

pois minha razão é obscura

e clara nos sentidos.

Sinto-me só e bem.

Bebo em paz minha sobriedade.

Rio de Janeiro, agosto 1984

* Pedaços de um passado sendo passado a limpo