Orfandade

À meu pai doente.

Tantas preces fiz por ti;

promessas que realmente pretendia cumprir.

Levanta-te desta cama meu pai!

Fale comigo, acolha-me em seu colo como sempre fazia

quando criança eu era e medo sentia.

Ah, meu pai, sou novamente uma criança e tanto medo eu tenho

levanta-te desta cama e acolha-me em teus braços.

Rezo tanto, mas nenhum Deus parece me ouvir;

por que não abre os olhos e nem atende aos meus chamados meu pai?

E para onde foram todos os anjos que não atendem o meu aflito chamado?

À meu pai morto.

Noite de 29 de julho,

adormeço exausta por mais um dia de preces junto à cama de meu pai.

O toque do telefone acorda-me, pulo da cama com a cabeça tão vazia

o vazio de saber e não querer saber, entorpecida pelo inevitável tão indesejado.

A triste noticia percebo pelas lágrimas de minha mãe,

e me vejo invadida pela pior de todas as dores,

todas as lágrimas do mundo não são suficientes para lavar minha alma que sangra incessantemente.

O telefone que não para de tocar um instante,

a casa enchendo de gente,

a caminhada noturna e silenciosa enquanto a cidade dorme tranqüila e

eu caminho ao encontro de meu pai morto;

ao encontro do meu coração morto;

ao encontro dos meus alicerces desfeitos pelo ser mais egoísta de todos a morte que tudo para ela quer.

Levanta-te deste caixão meu pai,

se você vai partir leve-me contigo,

não podes me deixar aqui tão triste e tão sozinha.

Tanta gente veio te ver meu pai, onde está o teu sorriso que abria a cada visita recebida?

As horas voam e ao mesmo tempo parecem não passar,

sentada em um canto de uma sala repleta de gente e

sentindo-me tão sozinha,

olhando para este caixão que abriga a minha alma, enquanto meu coração sangue chora.

A caminhada ao cemitério com a mente tão vazia,

como se tudo fosse irreal, um sonho triste, um pesadelo;

ah, meu pai, acorda-me deste pesadelo que tanto me faz chorar.

Não podem colocar-te neste buraco meu pai!

Cercado por desconhecidos, neste lar eterno tão sombrio e tão triste.

Uma salva de palmas para um grande homem que morreu sem ver o filho amado.

E o silêncio doloroso enquanto o túmulo se fecha.

Enterraram meu pai, enterraram meu coração, enterraram minha alma,

e agora sou apenas um espectro vagando pela casa vazia, cercada por velhas fotografias,

atormentada pela dor da perda daquele que mais amava,

atormentada pela saudade que tornará tristes todos os dias desta vida que perdeu todo o seu sentido e a sua alegria.

JuSousa
Enviado por JuSousa em 02/08/2006
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