Olhos de Abismo.

Cápsulas de fúria estouram em meu sistema digestivo

ou digestório, não importa

tudo já é sugestivo o bastante

ridículo o suficiente no meu Mundo Ilusório

onde ser bom não é ser bobo

onde o veneno às vezes é o melhor remédio

e os bons momentos são os mais demorados.

Mas aqui há algo errado. O céu cinza inspira o tédio

e aqueles azuis são muito áridos.

Mas não é isso. Não, não é.

Sinto que querem minha pele, querem um sacrifício

que quem sabe eu apodreça na prisão

- ou em uma porra de hospício -

Mas não é isso. Não é "só" isso.

Minhas energias se esvaem e o meu sono não vem

meus amores vão, as minhas lágrimas caem

as pessoas não vêem.

Elas nunca vêem o mal que fazem.

Genocídio e desperdício.

Egoísmo.

Meu eu lírico confunde alívio e suicídio

meu "eu" eu tem crises de identidade

e vaga em delírio.

Mas não é só isso, não, não é só isso.

Entre os espectros e retrospectos tudo não

passa de mero deja vú. Vês?

Eu não vim.

Não vi.

Não venci.

Quando pude abrir os olhos

tudo estava assim: O começo esquecemos

O meio - o mais importante - ignoramos

E por fim veio o fim

e finalmente nos perdemos.

não há mais romance nem música

não há mais poesias platônicas

não há mais inspiração ou lirismo

O que resta desse poeta é meio amargo

vinte e dois megatons de tristeza

e um par de olhos que refletem o Abismo.