Natureza Morta

Deitado no pequeno espaço

entre essas duas covas frias

eu tento me esconder

até a noite chegar...

Os minutos demoram passar,

e esse silêncio fúnebre

me faz adormecer calmamente...

De repente sinto o vento de asas

e abro os olhos e vejo a lua

refletida nas placas que cobrem os túmulos...

Levanto e caminho descalço meio as rosas murchas,

e túmulos ainda frescos,

a brisa fria toca meus lábios qual um doce beijo...

Meu ser está em paz,

não me sinto mais diferente de todos,

pois apesar de ainda respirar, estou morto...

Às vezes uma coruja vem e silenciosamente

fica olhando em meus olhos,

e mais uma vez uma estranha paz

me envolve quando mergulho

naqueles doces horizontes cinzentos...

Quando percebo, por de trás das árvores

secas e retorcidas vejo as nuvens de sangue

anunciando que tenho que ir para casa,

e uma lágrima cai de meu olho...

Aprendi a amar a noite,

pois nela me descobri,

aprendi a temer o dia,

pois tudo parece inalcançável...