Canção do Amor e da Ira Calada

Que a melancolia

não me leve a sombra

de árvore viva

em alma de primavera

Que não oiça

a maré alta que soa...

Quero ficar quieta

a sonhá-la, da duna...

Que a duna do meu peito

permaneça adormecida

não a toque a chama

nem a ventania

Que os meus olhos ousem

uma vez na vida

olhar o sol de frente

e depois fique cega

cega, deixarei passar sem ver

toda a lonjura onde não fui nem irei

todo o ouro, todo o azul.

E, ainda que não vendo,

vereis vós ´

os meus tormentos

fazerem-se vulcões meus olhos

que foram ensombrados lagos

ah, deixai-me ficar quieta

no meu terraço florido

com pássaros cantando!

Levai o vosso sossego

do meu ser angustiado!

Que o sol me seque o pranto

e o ar o leve escondido...