Que eu morra

Que eu enfim morra

E que dessa vida nada leve

Que venham roer meus ossos

E degustar da minha carne fria

Que eu possa ser útil a natureza

Ao menos uma vez

Eu possa me despregar

E minh’alma se desacorrentar

Das vestes e funestas ilusões

Que me seguram e me impedem de voar

Que eu seja o banquete principal

Pois na vida eu nada fiz

Nada plantei e nem colhi

Não reguei e muito menos amei

Agora o que resta é um punhado de flores

Flores, murchas flores

Que secam e se desfaz

Nem mesmo ela

Companheira da última hora

Vem me saudar

Oh! que destino o meu

Quisera eu ter sido o primeiro

Mas não fui nem o segundo

Tão pouco o terceiro

Apenas passei nessa vida

Não tive gana

Nem ambição

Só queria mesmo ilusão

E agora melhor eu partir

Assim não farei mais falta

Nem sei pra onde ir...