As margens do abismo
Hei abismo! Nem me disse adeus
E já me habita outra vez?
Na verdade, abismo,
Somos tão infinitamente íntimos...
Já não sei quem habita quem.
Há quanto tempo que medimos forças?
Há quem diga que sou maior que você,
Não estou tão certa.
Na verdade há momentos que o temo tanto,
Que nem me arrisco a vislumbrá-lo.
Eu não sei quem de nós chegou primeiro ao mundo,
Até onde me lembro,
Nunca me afastei muito além de suas margens,
Há fases em que caminho fingindo não te ver,
Mas é inegável o fato:
Nunca dei um passo sem você em mim ou ao meu lado.
E no final? Como será? O vencerei?
Às vezes nem sei se estarei no páreo,
Tenho que reconhecer,
O seu silêncio parece-me tão raro,
Tão quieto, tão escuro, tão vago...
Às vezes eu o invejo
Essa total ausência de sentimentos,
Não há nada a ser amado,
Mas também não há nada a temer.
Ou será que estou enganada?
Pode haver alguma paixão nesse sepulcro negro?
Será possível que de tanto convivermos
Você me vislumbra dependente
Talvez apaixonado
Pelo os excessos de tormentos
Que perturbam meu ser?