A MALDIÇÃO

A MALDIÇÃO

Carmo Vasconcelos

Era uma peça antiga, de subtil beleza,

Inda luziam irisados nos seus tons,

Mas só aquele que a olhasse em profundeza,

Podia vislumbrar seus preciosos dons.

Não era fácil desvendar com nitidez

O traço, a era, a escola a que pertencia,

Amálgama de estilos era seu jaez,

Num corpo de mulher, um' alma de utopia.

Porém, a par do misterioso encantamento,

Pesava nela uma lei de condenado...

Mais verosímil do que mero embruxamento,

Provável carma d’ex-pecado insaldado.

Todos a desejavam pla sua perfeição,

Gozar da sua posse era a ânsia exibida,

Mas por castigo ou por danada maldição,

De pronto a abandonavam após conseguida.

E da peça... amargas lágrimas tombavam,

Prantos esses que de pátina a recobriam,

E enquanto à vista plúmbeos veios alastravam,

Argênteos dotes do seu íntimo emergiam.

Até que um dia, um velho sábio lhe ditou:

- Cala o pranto inútil que a alma t’arrefeça!

Nenhuma maldição a vida te instilou...

Só não baixou ainda o ser que te mereça!

***

Lisboa/Portugal

http://www.carmovasconcelos-fenix.org

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 18/04/2014
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