Tango Tétrico
À Emil Cioran, eterno.
Acordou feliz.
Como quem não morre,
Ligou o rádio em bom volume.
Estranhou suas certezas, hoje tinha certezas,
Como dantes jamais tivera na vida.
Desejou um amor, um carro, uma varanda, talvez.
Vestiu terno passado e banhou perfume.
Sentiu verdade no vento, nas pessoas, nos semáforos.
Caminhou com elegância imortal, olhar etéreo,
Longe das pequenas perguntas e diminutas respostas.
Elogiou a organização da barraca de frutas, recebeu sorrisos,
Deu trocou ao mendigo e rezou um padre nosso.
Atravessou a rua e foi atropelado.
Seus débitos no bar da esquina foram perdoados.