Tango Tétrico

À Emil Cioran, eterno.

Acordou feliz.

Como quem não morre,

Ligou o rádio em bom volume.

Estranhou suas certezas, hoje tinha certezas,

Como dantes jamais tivera na vida.

Desejou um amor, um carro, uma varanda, talvez.

Vestiu terno passado e banhou perfume.

Sentiu verdade no vento, nas pessoas, nos semáforos.

Caminhou com elegância imortal, olhar etéreo,

Longe das pequenas perguntas e diminutas respostas.

Elogiou a organização da barraca de frutas, recebeu sorrisos,

Deu trocou ao mendigo e rezou um padre nosso.

Atravessou a rua e foi atropelado.

Seus débitos no bar da esquina foram perdoados.

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 27/04/2014
Código do texto: T4785016
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