Mort'alma

Minh’alma um dia partiu

tristonha, ao longe, pro mar, —

tremia doida de frio,

no intuito de se afogar.

Partiu, ao vão do deserto,

ao som de vozes, delírios;

co corpo nu, descoberto,

com pedras presas aos cílios;

com mil fantasmas e mortos,

e, aos pés, mil cobras rondando;

banhada em sangues remotos,

no mar se foi adentrando.

A cada gole de água

que inflava a sua garganta,

um pavor, que se afogava,

e a dor, que já era tanta!

Então, cos olhos fechados,

pulmões já frios e sem força,

suspiro mais que aliviado

lhe encerra a vida, já pouca.

E ao fundo, dorme por fim,

minh’alma em paz, derrotada.

Inteira já lá sem mim.

De tanto torta, afogada.