Mais um dia de trabalho
Tudo começa com o barulhento sinal,
informando a todos ali presos que o inferno começou,
depois disso não há como voltar... Tudo escurece,
e ainda não me acostumei ao fato de estar sozinho lá.
Vejo os mesmos rostos a quase um mês,
mas nada sei deles,
talvez sejam mais um na multidão feito eu,
só sei que estou no mesmo inferno que eles.
As vezes, tenho que disputar o trono,
quem vai ser o rei dessa vez?
quem vai pegar as navalhas cortantes do chão,
sem deixar cair uma gota de sangue.
Tenho tanto medo,
já não ouço os pássaros cantarem,
e muito menos o vento nas arvores,
é como tudo que eu conhecesse... Apenas não existisse mais.
Eu não consigo chorar,
ao perceber que o único som que ouço,
é o da broca rangindo no metal,
eu posso sentir-las.
Parecem dezenas de facas afiadas,
perfurando meu corpo... E dilacerando a minha alma,
tenho tanto medo que isso não acabe,
é como se fosse uma eterna tortura.
Onde eu não possa me expressar,
mas sei... Que aquilo vai ter um fim,
é quando o barulhento sinal,
da um grito de alivio.
Informando a todos,
que por mais que tenham sofrido,
isso tudo os esperavam pela manha seguinte,
e nada poderíamos fazer.
E eu...
o único momento do dia, em que eu me sinto livre,
é quando saio daquele maldito inferno,
e venho para casa.
E sinto as poças de água explodindo no pneu da bicicleta,
os pássaros em seus aconchegantes ninhos dormindo,
e o forte vendo da tarde em meu rosto,
não penso em nada nesse momento... Mas sei de uma coisa.
Nada e ninguém podem me ferir,
porque naquele momento... Eu sou imortal,
e realmente livre,
no caminho de volta para casa.