Alma acorrentada

Minhas palavras se perdem no oceano,

levadas pelas lágrimas de dias soturnos,

torrenciais nas tempestades do meu ser,

como um rio sem comportas correndo para o mar,

desaguando tristezas de vidas destoantes,

desencontradas entre ações e desejos,

erráticas entre decisões e culpas infinitas,

máscaras usadas para forjar alegrias,

personas delineadas para os dramas cotidianos,

encenando num palco de desilusões,

fragilidades de um anjo caído em um deserto,

com suas penas queimadas pelo castigo do sol,

por tanto tempo almejando ter novamente asas,

para voar entre arranha-céus e meu rumo retomar,

sair dessa territorialidade que me acorrenta a alma,

sentir-me livre no vento do longo destino,

ouvindo a melodia do tempo soar em meus ouvidos,

inspirando o frescor dos poderes que me foram ceifados,

mas tudo o que encontrei foi esta solidão eterna,

esse desalento que me cobre com seu manto,

essa melancolia que resume minha existência,

essa invisibilidade que me relega às sombras,

quando não me sobram mais horizontes de expectativas,

meu olhar já se perdeu em devaneios sem volta,

as batidas de meu coração já não possuem mais cadência,

esperando no porvir o fim derradeiro dessa penitência...