A velhice do Ator

Um dia, eu já fui o melhor nisso,

Comecei logo como um prodígio.

Tão bom quanto quem me treinou,

Ela era a melhor, mas o tempo a destroçou.

Comigo não foi diferente,

Pois o Deus Tempo não é benevolente,

Mesmo sempre cativando as pessoas,

A tal da idade nunca perdoa.

Logo vêm as reponsabilidades,

Mesmo que tu não queiras,

Sempre chega a idade,

Essa que te leva a liberdade.

Não me toquem, eu dizia.

Quero ser livre, mostrar minha arte,

Vestir de novo a fantasia,

Correr e voar solto por toda parte.

Em cena eu era o herói,

O qual um castelo constrói.

Ou mesmo o vilão,

O que vem e destrói.

Fazia um magnífico espetáculo,

Deixava todos impressionados.

Foi tudo que eu sempre quis,

Corpos vibrantes pedindo bis.

Vinham pessoas da alta classe,

Imploravam que eu atuasse,

Às vezes me convenciam,

Noutras, o orgulho vencia.

Todos viam em mim um futuro mestre,

Numa grande peça e na pequena esquete.

Eu era aclamado pelo povo,

Mas acabou quando chegou alguém mais novo.

Aquilo era o meu mundo,

Não pensei em sair dali jamais,

Mas quando tudo se modernizou,

Eu simplesmente fiquei para trás,

Assim que vieram as limitações,

Só vi quando as perna não obedeceram mais.

Tudo agora se resume a uma cadeira,

Nem a mente está mais inteira.

Eu amava todo aquele universo,

Foi minha única paixão sem percalço.

O teatro sempre me ensinou,

Que a vida não passa de um palco.