Desencanto

sine fine dolor, et tristitia, altum videtur

Porque as coisas todas enlouqueceram

Uiva a lua pelos céus, extasiada,

Brilha o lobo a correr pelas campinas,

As nuvens todas desapareceram

Sugadas pela casa já assombrada,

E as mulheres voltaram a ser meninas.

As memórias, os homens as esqueceram,

A última taça de vinho foi quebrada,

E bebem copos de veneno nas esquinas,

Pela noite as crianças se perderam,

Fez-se o silêncio sepulcral na alvorada,

E as grandes obras se fizeram pequeninas.

Choram as pedras por aqueles que morreram,

Vão-se as horas, claudicantes, pela estrada,

Cantam louvores aos senhores das doutrinas,

As cúpulas douradas emurcheceram,

A canção de amor não mais é entoada,

Não mais reluz nos altares promessas divinas.

Tudo agoniza à sombra dos que cresceram

Aos gritos mudos de cada dor instigada,

Escorre a cal que se impregnou nas barretinas,

O ódio ferve nos olhares que ensandeceram,

E onde a feia flor nasceu e fez morada,

Não podem mais rodopiar as bailarinas.

Manhuaçu, MG, 4 de junho de 2018

Aleki Zalex
Enviado por Aleki Zalex em 04/06/2018
Reeditado em 11/05/2020
Código do texto: T6354936
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