Não vi sua alma.

Já me sentia dono, dono de mim e do meu travesseiro

já nem me cortava o dia inteiro sangrava só um pouquinho

um pouco antes das seis fazia uma prece trinta noites ao mês,

e não mais morria nas noites de lua, a dor crua virava poesia e eu

a cozinhava em banho maria e servia-me no jantar me entorpecia

com um vinho barato e rasgava mais uma vez seu retrato que você

fez questão de deixar.

Já me sentia dono, dono do meu nariz eu era só um pouquinho infeliz

até você decidir voltar.

E voltou de pês descalços e com os olhos tão letais retornou de

antigos montes que os ventos não uivam mais, retalhou minha pele

cinza profanou minha alma límpida nessas noites imorais.

Já me sentia dono, dono de minha doença abdiquei de todas as

crenças pra poder viver em paz, quem mandou você voltar com

todo o seu veneno trouxe coisas de um mundo pequeno mais deixou

outras pra traz, quem mandou você voltar?

Entrou com seu cheiro malicia e beleza, mas lhe digo com tristeza...

Eu não vi sua alma entrar.