NO CÉU DA BOCA

NO CÉU DA BOCA

nos céus

nuvens eram tatuadas

pelos braços do vento

no céu da boca

silêncios eram abafados

pelas falas emudecidas

línguas brancas

lambiam os matizes do dia

e a tarde quase tardia

desardia empalhada na noite

havia sonho ainda

que não sonhado adormecia

sonho mudo que fosse

no fosso labiríntico da garganta

perdido

sonho de tantos dias

morrido

nas noites quietas

de tantas vozes tontas

feito baratas

tantas vezes baratinadas

enroscadas nas próprias asas

de voos rasantes

nunca dantes apropriados

pelos olhos da noite

passavam nuvens

pelo açoite do vento vergadas

interditadas pela voz inaudível

e na boca

um gosto de sal

e no sal

o desgosto do céu

Mírian Cerqueira Leite

Mileite
Enviado por Mileite em 16/06/2018
Reeditado em 18/06/2018
Código do texto: T6366076
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.