Versos Póstumos de um desalmado

Oh selva de pedra, sem coração

onde habitam as lágrimas

murmúrios e lástimas

onde se perde a compaixão

Terra dos filhos da ganância

onde adoram o deus papel

repletas de crianças alimentadas pela intolerância

que se benzem todas as manhãs no fel

Em suas ruas vagam os desalmados

os que perderam os nomes por não terem bens

os que pelos vivos foram esquecidos

e pela fome foram feitos reféns

Oh selva de pedra, extinguidora de sonhadores

onde a vida não cresce, se esvai

o vasto jardim das rosas dores

regado por cada lágrima que cai

Os pássaros em ti quando cantam, dispersam sofrimento

Sequer anseiam voar ou comer

se intoxicaram com a fumaça carregada pelo vento

e tornaram-se as bestas que vem nos adoecer

Metrópole repleta de multidões por onde olhares

mas multidões mais vazias que meu peito

preenchem cada banco nos bares

acreditando que esse vazio será desfeito

Oh selva de pedra, mausoléu onde reside minha cova

aqui ficaram meus sonhos e restos

aqui enterraram meus gritos e protestos

agora, rezo em meu pós-morte por vida

nessa cidade que exala luto, solidão e intriga.

R J Ferreira
Enviado por R J Ferreira em 09/07/2018
Reeditado em 29/07/2018
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