Versos Póstumos de um desalmado
Oh selva de pedra, sem coração
onde habitam as lágrimas
murmúrios e lástimas
onde se perde a compaixão
Terra dos filhos da ganância
onde adoram o deus papel
repletas de crianças alimentadas pela intolerância
que se benzem todas as manhãs no fel
Em suas ruas vagam os desalmados
os que perderam os nomes por não terem bens
os que pelos vivos foram esquecidos
e pela fome foram feitos reféns
Oh selva de pedra, extinguidora de sonhadores
onde a vida não cresce, se esvai
o vasto jardim das rosas dores
regado por cada lágrima que cai
Os pássaros em ti quando cantam, dispersam sofrimento
Sequer anseiam voar ou comer
se intoxicaram com a fumaça carregada pelo vento
e tornaram-se as bestas que vem nos adoecer
Metrópole repleta de multidões por onde olhares
mas multidões mais vazias que meu peito
preenchem cada banco nos bares
acreditando que esse vazio será desfeito
Oh selva de pedra, mausoléu onde reside minha cova
aqui ficaram meus sonhos e restos
aqui enterraram meus gritos e protestos
agora, rezo em meu pós-morte por vida
nessa cidade que exala luto, solidão e intriga.