O BRILHO DA NAVALHA

A ideia de suicídio sempre pareceu algo impertinente,

Porém, a cada dia, ela me parece cada vez mais atraente.

A cada vez que penso em meus pulsos sangrando,

A dor que isso causa, vai se amenizando.

Meus olhos buscam as cores que nas flores contém,

Na tentativa de fugir da beleza peculiar que a navalha tem.

Cheia de esperança, ela oferece uma fonte de alívio tão instigante,

Que minhas crises de tristeza vão e voltam a todo instante.

Minhas crises de tristeza não são romantizadas!

Elas existem e doem mais que uma pele queimada.

Elas são frutos de pensamentos negativos que insisto em ter,

Parecem-me tão reais, que já nem tento remover.

Estou cercada de gente que diz que me ama com firmeza,

Mas são tão cegos de alegria, que não enxergam minha tristeza.

Já me acostumei tanto com a solidão, que até criei um sentimento por ela.

Tranco-me no quarto e meu mundo de problemas já era.

Sei que eles arrombarão a porta do meu quarto um dia,

Mas até lá, já terei deixado essa minha vida.

Para viver precisamos de tantas coisas que a vida nos pede,

Para morrer, só basta um lugar vazio e uma gilete.

Cortando os pulsos na vertical, ninguém vai poder costurar.

A vida vai embora e só o que resta é enterrar.

Os múltiplos talentos que procurei desenvolver,

Fazem parte da tentativa desesperada de me preencher.

O eco vai e volta nas paredes dentro de mim

E não há música alta o suficiente que o faça sumir!

O mundo tem meus sorrisos durante o dia

E à noite, minhas lágrimas de agonia.

À noite, não faço outra coisa a não ser chorar,

Então os meus soluços se encarregam de me nocautear.

Sinto falta dos abraços do meu irmão nessas horas de agonia,

Por mais que fosse considerado louco, era o único que me entendia.

Meu mundo se resumiu a um quarto monótono,

Cuja janela, me leva a uma parede de tijolos.

Gravo meu corpo em fotografia, não pelo charme,

Mas para lembrar que sem roupas, sou apenas carne.

Carne onde os homens buscam minha beleza

E esquecem do meu coração e sua riqueza.

Eu sou a alegria de tanta gente, mas poucos me trazem felicidade.

Busco desesperadamente me completar com apenas o amor da amizade.

A ideia de suicídio nunca passou pela minha cabeça,

Mas agora, sinto cada vez mais a sua presença.

Pergunto a um amigo o que há de mais belo no que sou,

Então ele cita qualquer parte do meu corpo sem o menor valor.

É isso o que eu sou? Um saco de órgãos que podem parar a qualquer momento?

Ou um livro em que a capa importa mais do que o conteúdo de dentro?

As pessoas vivem para o futuro, pois ele sempre promete algo maior,

Mas esquecem que o presente está aí para testar o seu melhor.

Me chamam para transar, dão-me um pouco de carinho barato

E logo me devolvem para casa, depois de terem me usado.

De tanto procurar amar os que já são amados,

Sempre caio nos braços dos descompromissados.

Vejo um caminho iluminado guiar a multidão,

E eu vou andando pelos becos da escuridão.

Então o medo de ser só mais uma falha,

Cega-me com o brilho da sua navalha.

Esse brilho ilumina o meu beco escuro

E me revela um caminho que parece tão simples e seguro.

E como a ideia de suicídio já me parece indolor,

Traço uma linha vertical nos pulsos e pronto... Acabou!

Talvez haja uma saída, mas quem pode me mostrar?

(THAÍSSA GABRIELLE)

Thaíssa Henrique
Enviado por Thaíssa Henrique em 06/11/2018
Reeditado em 06/11/2018
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