Hipócrita Divino IV: O demônio mais humano que existirá

Sou um ser imortal,

Que imortalmente sai de domínio abissal,

Pra voltar em outra terra de mal,

É o estágio terminal,

Desde fenômeno mundial,

Que vivi até o final,

Eu nasci em terra de sofrimento,

Com meu maior símbolo de monumento,

A minha alma é meu documento,

Sou a voz do silenciamento,

Andei em toda areia com pé ardente,

Arrastei-me por gelo quente,

Afoguei em água transparente,

Arranhei em espinho de floresta decadente,

Me encontro diante a humanidade,

Com toda a sua bondade,

A sua terrível verdade,

E eu nunca seria seu confrade,

Pois a maior fraude,

É dizer ser humano,

Chamar todo mundo de mano,

Apontando pólvora e chumbo num cano,

E eu escapar que me faz profano,

Eu presenciei arte queimada,

Toda divina cruzada,

Cada filha violada,

Cada rainha destronada,

Até a raça escravizada,

Toda a perversidade materializada,

Cada parede fuzilada,

Cada casa queimada,

Com toda mulher culpada,

Com toda etnia aterrorizada,

Coração em ponta de faca,

Dedo gordo que segura taça,

Mas que bela desgraça,

Ninguém notou os cavaleiros e individual mensagem,

Cada santíssima passagem,

Ninguém viu A Guerra se espalhar,

Ninguém viu A Fome penetrar,

Ninguém viu A Doença vos cegar,

Ninguém viu A Morte vos abraçar,

Ninguém percebe cada cavaleiro semeando seu objetivo,

Cada um trabalhando com seu nome ativo,

Cada um com seu dever nativo,

Mas a culpa é sempre de quem vem de baixo,

A culpa é daquele que lhe deixa cabisbaixo,

Pois aqui vai um sussurro notório,

Nunca houve purgatório,

Nem interrogatório,

É tudo tão simplório,

O Diabo sempre foi anjo de asas,

Nunca viveu em cascas,

Nem arrancou as próprias asas,

Muito menos o rei das palavras falsas,

Não tenho chifre nem calda,

Não levo humano para a vida malvada,

Não peço a sua alma,

Nem faço perder a calma,

Eu galopo em cavalo esquelético,

Aprendo com o cético,

Vejo a fúria de um ético,

A morte de um período poético,

Meus olhos também choram,

Por mim mesmo imploram,

Nesse mundo exploram,

Enquanto humanos se tornam,

Como aquele que eu sou,

Fugindo pra onde me vou,

Me pego em vôo,

E eu corro,

Todo dia é uma consequência,

De um mundo mergulhado em doença,

Entre religião e ciência,

Por que sou eu que peço clemência?

Eu vejo da droga ao champanhe,

Do me ame,

Ou apanhe,

Do seja homem,

Ou se acanhe,

Do me mate,

Ou me arranhe,

Vejo gente mas será que sou visto?

Eles são a poeira ou eu o seu cisto?

Mas se eu odeio vos tanto por que eu insisto?

Me sinto um misto,

De amor e ira,

E a quem diria,

A quem me faria,

Que destino me sorriria,

Que dia quente ou noite fria,

A imortalidade me teve um preço,

Por aquilo que eu tive mais apreço,

Meu maior símbolo de adereço,

E me careço,

Não mais apareço,

Pego me questionando,

Até onde estou delirando,

Por que sou eu que estou pensando,

O eterno rondando,

Aterrorizado ou admirando?

Eu nunca escolhi o Vesúvio,

Nunca escolhi o dilúvio,

Nem quis ser o viúvo,

Nem me curvo,

Se tudo foi pela maldade do coração,

Por que não se tem divina ação?

É desistência ou comemoração?

Até quando esse egocentrismo de escravidão,

A mais palpável escuridão,

Mas eu acredito que o dia vai chegar,

Que o Messias vai voltar,

Com todos os anjos uníssonos a cantarolar,

Os arcanjos a voar,

Vão todos descer para ceiar,

Vão novamente Lhe crucificar,

No final sou o endemoniado,

O filho exilado,

A cria exonerada,

O brinquedo inacabado,

A criatura encarcerada,

Sou o demônio mais humano que existirá,

Pior que sejam quem nascerá,

Numa sociedade que perpetuará,

Verei novamente que o sacrifício acontecerá,

Infelizmente é o filho amado que enxergará,

Louco é Deus por amar a tão humanamente rancor,

Espalhar morte em nome do senhor,

Achar que desgraça é uma forma de favor,

Ensionou-os a amar,

Mas não verdadeiramente amor,

Como demônio e escritor,

Eu entendo limitadamente sua ilimitada dor.

Assim compro um sorvete,

Só para ver te,

A maior benevolência,

Derreter ao sol poente,

O dia que os portões celestiais se abrirão,

Que Deus extenderá mais uma vez a mão,

Sacrifica filho, filha, irmã, irmão,

E onisciente será em vão,

Todos querem salvação,

Esperando-a com tábuas e pregos na mão.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 17/01/2019
Código do texto: T6552847
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