há um pesadelo na alma do rio

há um pesadelo na alma do rio

flores choram

na beira do rio

pássaros choram

na beira do rio

árvores choram

na beira do rio

mães pais filhos

filhos de filhos choram olhando pro rio

mas a ganância humana

tão humana

tão desmedida ganância

zomba de todos que choram

na beira do rio

árvores de pontos mais altos

choram a morte de tudo lá em baixo

outras árvores animais

assistem aterrorizadas a vaidade humana

a morte do rio

corpos passeiam na lama que não é do rio

passeiam num mar de lama

que estupra a alma

do rio

estupra peixes filhotes adultos mães pais peixes avós peixes tios peixes do fundo do rio

que viola a flora do rio

que viola a alma do rio

e faz chorar Yara

e a expulsa do rio

200, 300 corpos passeiam de montanha russa pela última vez

descem comidos pela lama no rio

de um rio com nome de comida feijão

substantivo feijão

palavra feijão que guiará novas pesquisas virtuais

que não mais alimentará afetos

só envergonhará até o demônio canibal

que vive no fundo rio

corpos que não serão comida de peixes

pois peixes violados não mais existirão no rio

aliás talvez já não haja rio

já não haja um vale

só uma mancha de sangue

no mapa no mapa do brasil

df

Devair Fiorotti - df
Enviado por Carmem Lucia Corrêa De Castro Cirqueira em 29/01/2019
Reeditado em 10/04/2020
Código do texto: T6561891
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