Há lama em meus sapatos e eu
nem lembro da chuva...
Trago a lama intrusa para casa
conspurcação dos tapetes...
Mas ainda me resta uma casa a manchar!
A lama que resume o mundo lá fora
que grita ensandecida em meus ouvidos
a impureza dos meus sapatos e do próprio
ato de caminhar.

Eu quero desdizer a lama, quero proibir calamidades
descobrir em mim o mito desmentido, que não fabula
não constroí nem edifica possibilidades.


A lama em minhas solas não relembra, só desola
meu espírito exausto pelos vizinhos desmaiados...
A lasanha dessa sociedade morta e sem tempero
que não crê que em meus sapatos há lama
e em meu peito horrível e insanável desespero.

Crédito da imagem: 
http://memoria.oglobo.globo.com/jornalismo/primeiras-paginas/um-rastro-de-destruiccedilatildeo-1-18775560