Do dia que você se foi

Como pode nascer o sol,

se já não sou?!

Como pode a palavra nascer no meu verso se por?!

Se é a morte que está no teor.

Vou subir tudo de novo,

Cada degrau da escadaria,

Talvez eu precise da madrugada,

Durante o dia a polícia me prenderia,

Arrancar aquela tampa e aquela placa.

Vou te levar pra casa.

Quero ouvir outra vez,

Na sua voz as músicas de Rita Lee,

Também a mim e ao meus irmãos o:

Amo vocês,

Nem que seja só mais essa vez.

Eu voltaria no Natal,

Foi o que te falei...

Você encolheu os ombros e disse...

"É que talvez..."

Disse nada.

Disse a mesma coisa de sempre.

Mas foi o último dizer.

E foi verdadeiramente.

Mas então,

Talvez o quê?

Sei hoje,

E como é ruim saber.

Talvez nunca mais iríamos nos ver.

Era dia de dor,

pra mim e pra você,

Lavei, pintei e cortei os seus cabelos.

O nosso louco preferido tinha acabado de morrer.

Mas no Natal talvez...

Talvez quem já teria morrido seria você.

Nem em verso nem em prosa nunca soube isso dizer.

Foi a minha morte te perder.

Na verdade eu nunca soube entender.

Como quem vive pode da morte alguma coisa saber?

Mas como, pelo amor de Deus, como?

Você me contou que talvez...

Esse talvez certeiro.

Esse talvez doído.

Esse talvez corriqueiro.

Não se morre só uma vez,

Que mentira mais estranha.

Eu morri aquele dia ,

E todos os outros da semana.

É que a morte agora me acompanha,

Sem chorar não durmo,

Sem durmir não vivo,

Sem viver sou túmulo.

Sinto muito por tudo,

Talvez hoje já nem seja mais luto.

É que sei na prática,

Um filho sem mãe sofre muito.

Mesmo assim obrigada,

Amanhã quero te ver,

Na verdade quero hoje,

Como poderei fazer?!

São seis anos,

Eu tive que cresce.

Sabe seu favorito?! Jã não é mais menino,

a Senhora tinha que ver.

A sua linda já tá na faculdade federal,

Faz curso de sei lá o quê.

E eu tô aqui em casa,

Cheia de saudades de você.

Esses anos todos tudo o que fiz foi escrever,

Eu briguei com meio mundo mãe por você.

Não foi sua culpa eu tive que dizer,

Mas quando sofro sem o colo quase digo que a culpada é você.

Seria tão mais fácil se estivesse aqui,

Porque logo você foi desistir?.

Nada que escrevo faz sentido na verdade,

Todo dia mudo de opinião,

Finjo que isso é liberdade na real é solidão.

Eu te amo até hoje,

Como se isso não fosse verdade.

Eu vivo tentando te entender,

Parece que eu sou igual você.

Não vou ter um filho,

Porque eu sei que eu vou morrer.

Nenhum filhos merece sem mãe viver,

Mas vamos fingir que não disse isso.

Se não perderia todo o sentido,

continuar pra quê?

Mas também "é que talvez"...

Se você puder comentar o que achou pra eu saber ,vou ficar muito grata.

Obrigada.