Pessoas estranhas
Não há de decifrar
O súbito silêncio,
Dominante e hostil
Presente a todo o momento.
Conversas rápidas,
Risos forçados,
Saudade fingida
Às pessoas que agora
Mal posso dizer que conheço.
Devo desperdiçar tempo
E o espaço de versos
Apenas ao contemplar
E ao descrever do que havia
Em perfeita harmonia?
Não seria difícil responder
Se remotamente fosse
Possível negligenciar
A absoluta fragilidade
Em que tudo aparenta
Carregar como maldição.
Um tom ameaçador,
Persistente e amargo
Para até as menores
Coisas que fazem parte
Desta vida que encontrou
A solidão como conforto.
Atrás de cada porta,
Dentro de cada armário,
À procura incessante
Por um esconderijo
Que não faça as consequências
Encontrarem sua culpada vítima.
Nesta trilha estreita
De folhas caídas
Dos outonos anteriores
Andam menos
Faces familiares
Por seu desamparo.
Há algo de errado no
Proceder desta natureza,
Mas nada é dito
E nada é protestado
Aos que vivem em sua
Inevitável decadência.
Entre breves encontros
De olhos passageiros,
Eventuais interações
Que afirmam o isolamento,
Sorrisos de fotografia
Em cada uma das
Disfarçadas ilusões
De que tudo está em seu lugar.
São pessoas estranhas,
Pessoas decepcionantes,
Pessoas excepcionais,
Pessoas lamentáveis,
Pessoas inestimáveis,
Pessoas confusas.
Talvez um dia
Finalmente parem
De usar essas máscaras,
Chegará um momento
Em que será só
Um longuíssimo sonho ruim.
Talvez um dia
Elas terão suas presenças
Redefinidas e mudadas,
Serão reconhecidas
Após o tanto tempo em que
Não estiveram aqui.
Talvez um dia
Percebam que algo
Não está certo
Na maneira que agem,
Na maneira que falam,
Na maneira que gritam,
Na maneira que brigam,
Na maneira que choram.
Até que essa hipótese
Alcance realização ou oblívio,
Estas pessoas estranhas
Serão a superficial imitação
Daqueles que costumavam
Habitar seus lugares.
E continuaram assumindo
O controle em suas mãos,
Dilacerando cada amizade,
Infligindo cada amor,
Dividindo cada vínculo,
Negando cada pai, mãe e irmão.