POR DENTRO
A solidão é fria e assusta
O pavor de estar sozinha sufoca
Cega os olhos para as cores
Tudo é cinza e inodoro
Paisagens secas, bruscas, sujas
Nuvens paradas escondem o sol
O silêncio grita irritantemente
Tudo ao redor é sem vida
Objetos e móveis inanimados
Aplaudem minha sensação
De gota caindo no mar
Óleo pingado na água
Telas Picasso não me acham
Luz metáfora da morte
Balão solto
Seu pouso é a sorte
Ouço apenas minha voz
Rugido feroz de intolerância
Cenas da infância perdida
Bilhetes de amores fracassados
Livros e diários enigmáticos
Anéis, brincos corroídos
Ferrugem trazida do passado
Só vejo meu rosto
Só ouço meus passos
Joguei os retratos
Tirei os sapatos
Só as lágrimas são fato