MÃE

Suas mãos pintadas

Hoje trêmulas

Servindo o prato

De massa fresca,

O doce frutado

Tal onça do cerrado

Ela gritava agudo

Punindo as filhas

_Vocês devem ser bonitas!

Para bem casar

Sentem certo, comam direito

Não fale feio.

Te odeio!

Ela ouviu.

Sentiu-se desamada

Sentiu que não mais vivia

Ouviu palavras frias

Que estava louca

Que morreria só.

Eu sei que tem medo

Eu sei que ama,

De um jeito errado.

Ama no bolo feito

Ama na ave-maria à noite

Mas o tempo é vento em açoite

Que não cura, mas abre a ferida

Que nunca cicatriza

Queria dar-te um abraço

Queria que fosse a mãe doce

Tal a bananada no tacho

Queria que seus olhos verdes

Que se erguem nervosos

Me olhassem com ternura

E não fossem censura

A me castigar

Mãe, minha mitocôndria existencial

Venha me ninar.

Madame F
Enviado por Madame F em 24/11/2019
Reeditado em 01/12/2019
Código do texto: T6802771
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