LEVE A DOR

À dor, não cabe prisão.

Antes, há que soltá-la, em uivos de cão

ou canto, em levas,

pra longe do coração.

Há que confrontá-la com a beleza das ruas,

com os olhos do moço que passa,

com a primavera rolando pela calçada

em perfumada conversa com as pedras.

À dor, abra as portas

e, com seu mais lindo batom e as pernas nuas,

leve-a em trottoir pelas ruas

sempre um passo além... da dor.

Assim, ao erguer o olhar,

por trás de tão linda boca,

ela não reconhecerá

a angústia que habitava,

a cordial morada, antes sua.

E irá se perdendo... a dor.

A dor irá se perdendo

nas ruas por onde for,

você e suas pernas nuas.

(para duas ou três poetas

que trancaram a dor,

entre elas, eu).

Saramar
Enviado por Saramar em 11/10/2007
Código do texto: T690065