Curitiba, 05 de junho de 2020.

Fora de órbita
uma hora por vez
se vive o dia interminável
pudera ser mentira
aquele sonho ruim
que de sobressalto
traz a realidade e o alento

só que não

tenho a noite toda pela frente
tenho a vida toda pela frente

até completar-se um dia
até sua memória
se resumir numa poesia
e lágrimas não caírem
ao me lembrar de você
o tempo terá passado
um dia vai parar de doer

fora de órbita
senso desorientado
penso em você
nessa parte de mim
que agora segue contigo
nesses anos que passaram
nem notei a velocidade
anteontem acordei
e sorri pensando em você
estava fazendo calor
minha vida recomeçava
um novo eu em construção
tive a impressão
de que na noite passada
te escrevi uma prosa poética

lua

e transbordava um bem querer
de cada linha escrita com ternura
a lua de testemunha
ocupada demais hoje com o sol
não pretendo aborrecê-la
cedo ou tarde ela saberá
que meu coração está partido
e por tempo indeterminado
será difícil falar de amor
sem sentir o peito sufocar
porque agora é diferente
eu tinha vivido algo tóxico
deixá-lo ir era resguardar
o que me restou de dignidade

é reconfortante aprender a amar
depois de se julgar incapaz
e ser tão belo esse amor
a confirmar o que diziam as pessoas
sobre aquela paixão destrutiva
a vida tinha algo melhor para mim
eu não acreditava
olhando para a dor 
era quase impossível crer
que eu voltaria a sorrir
e quem me olhasse nunca suspeitaria
que já vivi o inferno na terra

tenho a noite toda pela frente
tenho a vida toda pela frente

procuro pelas palavras certas
impossível moldar lágrimas
seria um discurso ilegível
é apenas o primeiro dia
e me aperta o coração
tantos outros dias ainda virão
hoje é a noite em que posso
chorar ao som de músicas tristes
inundar o travesseiro
fechar a porta do casulo
fechar os olhos e sentir você
mais adiante precisarei ser fria
e fazer de conta que nada me afeta

você acredita que o tempo cura?
que os ventos me trarão outro amor?

porque dizem que o tempo cura
nada como outro amor
como outro dia
mudar os móveis de lugar
sentir a dor sem anestesia
deixar a poeira abaixar
que sejam imortais as palavras

é cedo demais para outro amor
agora sim eu duvido da minha força
meu velho eu aceitaria migalhas
toleraria tudo em busca de espaço
aceitaria de bom grado ser maltratada
viver uma mentira
e me convencer tão bem dela
a ponto de me odiar com a verdade
você me ensinou que eu merecia mais
do que ser última opção
você me ensinou o caminho
até o meu próprio coração.
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 05/06/2020
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