Invernia
Eu não queria sentir
Não queria ouvir
Não queria falar
Não queria achar motivos pra contestar
Essas pedras em meu caminho
E essa dor em meu peito
Lapidando lentamente
Os restos do meu coração
E eu me entrego a essa ideia
De me encontrar comigo mesmo
Me encarar de frente ao espelho
E sentir meus cacos caírem no chão
E eu me desprendo do momento
Em que minhas lágrimas são mais frias
Que o sangue que percorre
Dos meus punhos fechados
Eu sempre desejei
Sempre procurei
Sempre almejei estar
Em um lugar de luz e calmaria
Esperando que o silêncio
Estivesse em mim como alento
E não simplesmente como uma faca
Dilacerando essa minha alma
E eu me entrego a essa ideia
De me perder na imensidão da vida
Sentindo profundamente
Todas as dores da mente
Me empurrando para um caminho
Que eu mesmo não procurei
Como se os céus me movessem
Em direção ao inferno
Talvez eu tenha arrancado de mim as lembranças
De qualquer momento feliz
Ou elas nunca estiveram comigo
Então eu simplesmente me deito sobre o chão
Recostando-me pelos cacos de mim
Pelo sangue do meu coração
E aguardo tudo melhorar
Como nas palavras de invernia
“Vai passar, eu sei, eu sei que vai passar.”