Carrasco dos meus sonhos

Por que cortas minhas asas?

Nem mais contigo posso voar?

Por que tanto me arrasas?

E me impedes de sonhar?

Finges que me amas,

Trazes de volta minha paixão;

Depois somes com essa chama,

Apedrejando-me o coração.

Te dei desde o amor possível

Até minha vida em morte, então;

Mas te mostraste tão insensível

E me deixaste só na ilusão.

Não me ocultei à tua vida

Nem esnobei o meu carinho,

Já tu me fazes despedida

E fico eu, aqui sozinho.

Humilhei-me ante teu nome

E te comprei o paraíso,

Matei de amor a tua fome,

Mas não tenho a ti, a quem preciso.

Cedi meus beijos de virgindade

À tua boca já abraçada,

E só provei de tua maldade,

Nessa amante língua envenenada.

As lágrimas se foram em rio

E deixaram-me o olhar,

Que se perdeu em teu vazio,

Não mais amor soube irrigar.

E essas gotas que te verti,

São agora peças de um mar,

Pois tanto augúrio que nelas sorti

Jamais souberam te adocicar.

Comi à porta da miséria,

Bebendo o teor do teu carinho,

Te abastaste da minha mazela

E teu escárnio ainda a mim o vi sorrindo.

Quis ser mais que um amigo,

E tê-la como eterno par,

Curtir às noites sempre contigo:

O doce olhar do azul luar.

Tentei ganhar o teu sorriso

E tocar tua áurea mão,

Mas teu calor que tanto viso,

Já congela em minha escuridão.

Agora fantasma sou:

De vivo tenho só a lembrança,

Até morte teu amor roubou

Numa insólita esperança.

És o carrasco do meu sonho,

A insônia de meu pensamento,

Pesar da veste que me ponho,

Na constância de meu lamento.

Vitor Barros
Enviado por Vitor Barros em 19/11/2005
Código do texto: T73578